No post “07 Principais exigências em acreditação
para o setor de engenharia clínica” nós
falamos um pouquinho sobre a metodologia que utilizamos na EquipaCare para a Priorização
da Manutenção através da classificação de Criticidade dos Equipamentos.
Como alguns colegas nos pediram maiores informações sobre
este tópico, resolvemos escrever este post para expandir o assunto e melhor
detalhar qual metodologia nós adotamos para classificar os equipamentos médicos em
diferentes níveis de criticidade e utilizar este dado para
os processos de gestão de manutenção
em Engenharia Clínica.
SOBRE
O CÁLCULO DA CRITICIDADE
A classificação
dos equipamentos médicos por sua criticidade é algo bastante interessante para
a gestão da manutenção, pois permite
um melhor direcionamento de importantes programas contidos no Plano de
Gerenciamento de Equipamentos em Saúde. Acredito que os 03 principais
benefícios desse método são:
1)
Permite
otimizar o programa de manutenções preventivas;
2)
Possibilita
dar melhor foco para o plano de contingência;
3)
Estabelece
a melhor forma para priorizar o atendimento das manutenções corretivas.
Talvez, a principal metodologia utilizada hoje no Brasil
para a classificação de criticidade de equipamentos é a que foi apresentada
pela RDC nº 185, de 22 de outubro de 2001.
Nesta RDC, os equipamentos são avaliados conforme (A) Sua
aplicação (finalidade de uso), (B) Consequência em caso de uma possível falha, (C)
Tipo de contato das partes do equipamento com o corpo do paciente, (D) Tempo de
exposição e (E) Tecnologia utilizada. Com isso, os equipamentos são
classificados em 04 Níveis de Risco,
começando com o Nível I – Baixo Risco
e chegando até o Nível IV – Máximo Risco.
Mas aqui na EquipaCare sentimos falta de alguma
classificação que também levasse em consideração a importância estratégica daquele equipamento para a operação. Por
exemplo, uma sala de ressonância magnética sem funcionar ou uma
sala cirúrgica parada pela falta da mesa cirúrgica, representam importantes
impactos financeiros para o Hospital.
Assim, objetivando
flexibilizar a classificação dos
equipamentos para atender às especificidades das diferentes instituições que
trabalhamos, adaptamos uma metodologia própria de priorização da manutenção.
Em nossa metodologia os equipamentos hospitalares são
classificados de acordo com:
(a) Sua
função,
(b) Risco
físico ao paciente ou ao operador e
(c) Grau
de Importância ABC.
Cada classificação recebe uma pontuação que é somada para
chegar ao valor “C” de criticidade.
C = F + RF + ABC, sendo:
Criticidade = Função + Risco Físico + Grau de Importância ABC
Listaremos abaixo cada item constituinte da metodologia e
sua respectiva pontuação para a classificação da criticidade:
FUNÇÃO
v
Suporte
a Vida - equipamentos utilizados para sustentar a vida de um
paciente após a falha ou insuficiência de um ou mais órgãos vitais. Exemplo:
Ventilador Pulmonar;
v
Terapia -
equipamento destinado ao tratamento de patologias, incluindo a substituição ou
modificação da anatomia ou processo fisiológico do organismo humano. Geralmente
os equipamentos de terapia aplicam algum tipo de energia ao paciente. Exemplo:
Bisturi Elétrico;
v
Diagnóstico -
equipamento destinado à detecção de informações do organismo humano para
auxílio ao procedimento clínico. Exemplo: Monitor Multiparamétrico;
v
Análise -
equipamentos de laboratório e relacionados ou equipamentos de informática
médica. Exemplo: Centrífuga;
v
Equipamento
de apoio - equipamento destinado a fornecer suporte a
procedimentos diagnósticos, cirúrgicos e terapêuticos. Exemplo: Maca hospitalar.
Função |
Pontuação |
Suporte
a Vida |
10 |
Terapia |
8 |
Diagnóstico |
6 |
Análise |
4 |
Equipamentos
de Apoio |
2 |
RISCO
FÍSICO
v
Morte -
falha no equipamento pode levar a morte do paciente. Exemplo: Cardioversor;
v
Injúria -
falha no equipamento pode produzir dano permanente ao paciente ou ao operador.
Exemplo: Bisturi Elétrico;
v
Terapia
ou Diagnóstico falho - falha no equipamento pode induzir a um
diagnóstico inapropriado ou a uma terapia inadequada. Exemplo: Eletrocardiógrafo.
Risco Físico |
Pontuação |
Morte |
7 |
Injúria |
5 |
Terapia
ou Diagnóstico Falho |
3 |
Sem
risco |
1 |
GRAU
DE IMPORTÂNCIA “ABC”
A curva ABC é um método de classificação de informações, que
permite destacar os itens que - mesmo estando em menor quantidade numérica -
representam para a instituição o maior grau de importância ou impacto.
Então, a grande vantagem de incluir o Grau de Importância ABC no cálculo de criticidade, está na flexibilidade de poder pontuar de acordo com a realidade e prioridade estratégica da instituição de saúde.
v
Grau
A
– Falta do equipamento impacta diretamente interrupção do serviço, na perda de
receita da instituição ou mesmo colocar em risco sua credibilidade junto ao
cliente. Equipamentos enquadrados nesta faixa possuem geralmente um maior valor
de aquisição (> R$ 100.000,00) e são impossíveis de serem substituídos em um
curto espaço de tempo, seja por serem únicos na instituição ou por serem
equipamentos fixos ou de difícil mobilidade. Exemplos: Hemodinâmica;
Microscópio Cirúrgico Especializado.
v
Grau
B
– Nesta faixa estão enquadrados equipamentos que podem impactar de forma direta
no cuidado ao paciente ou mesmo na perda de receita da instituição,
interrompendo o funcionamento de um leito ou mesmo cancelando uma cirurgia, por
exemplo. Os equipamentos aqui enquadrados possuem um valor de aquisição
moderado e possuem unidades iguais ou similares dentro da instituição, tornando
possível sua substituição de forma mais rápida. Exemplos: Aparelho de
Anestesia; Mesa Cirúrgica.
v Grau C – Falta do equipamento não acarreta paralisação nos serviços de assistência. Equipamento facilmente substituível seja pela existência de inúmeros outros similares na instituição ou mesmo devido à maior facilidade de compra. Exemplos: Oxímetro; Esfigmomanômetro.
Importância ABC |
Pontuação |
Grau A |
10 |
Grau B |
5 |
Grau C |
1 |
Exemplos de
equipamentos já enquadrados na metodologia
Os equipamentos de
saúde da tabela abaixo já estão enquadrados de acordo com a metodologia de
criticidade da EquipaCare. A classificação do grau de importância ABC é apenas
uma sugestão e, conforme explicado anteriormente, pode variar de acordo com a
realidade de cada estabelecimento assistencial de saúde.
Equipamento |
Função |
Risco
Físico |
Importância
ABC |
Criticidade |
Centrífuga |
4 |
3 |
5 |
12 |
Desfibrilador |
10 |
7 |
5 |
22 |
Eletrocardiógrafo |
6 |
3 |
1 |
10 |
Ressonância
Magnética |
6 |
3 |
10 |
19 |
Com o Cálculo de
Criticidade apresentado na tabela acima, enquadramos os equipamentos por Faixas de Criticidade de maneira
similar a RDC nº 185 como exposto abaixo:
v Baixa criticidade –
Índice de criticidade variando de 04 a 11
v Mediana criticidade –
Índice de criticidade variando entre 12 a 18
v Máxima criticidade –
Índice de criticidade variando entre 19 e 27
Com isso, os equipamentos enquadrados na faixa de
criticidade Mediana ou Máxima deverão estar inclusos no programa de manutenção
preventiva, nos planos de
contingência e recebem regras especiais para atendimento de chamados para manutenção corretiva.
PRIORIZAÇÃO
DE ATENDIMENTO CORRETIVO CONFORME A CRITICIDADE
Tendo a classificação de criticidade mostrada acima
(baixa, mediana e máxima), poderá ser estabelecido em comum acordo com a administração
do hospital, os tempos máximos para
atendimento de cada nível e, com isto, ter estabelecida uma regra de
priorização para a Engenharia Clínica.
Segue um exemplo que poderia ser estabelecido no hospital:
Equipamento
de Máxima Criticidade
Estes equipamentos devem ser atendidos
imediatamente ou em até 10 minutos, em especial quando já estiverem em uso com
um paciente. Dessa forma, técnicos em atendimentos a equipamentos de menor
criticidade devem ser remanejados para o atendimento de chamados para
equipamentos de máxima criticidade.
Equipamentos
de Criticidade Mediana
Atender todas as solicitações para
equipamentos desta faixa em menos de 20 minutos (tempo de atendimento).
Técnicos alocados em chamados considerados de menor criticidade podem ser
remanejados para atender chamados de criticidade mediana.
Equipamentos
de Baixa Criticidade
Estes equipamentos são atendidos de
acordo com a disponibilidade de um técnico no setor com limite de tempo para
atendimento de no máximo de 02 horas.
Importante:
A regra acima não pode ser generalizada para qualquer estabelecimento, pois varia de acordo com o tamanho da equipe técnica do setor de engenharia clínica, bem como também pelo grau de complexidade dos serviços médicos prestados.
Uma instituição de diagnostico por imagem, um ambulatório médico, um hospital dia ou um hospital geral de alta complexidade tem necessidades distintas. Por isto que afirmamos que esta regra deve ser estabelecida para cada instituição e em comum acordo com as expectativas da administração.
Guilherme Xavier
A ABEClin, é uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos e de duração ilimitada. Foi estabelecida com o objetivo de incentivar, consolidar, integrar e qualificar os profissionais que atuam na área de Engenharia Clínica definindo-os da seguinte forma:
“O Engenheiro Clínico é o profissional que aplica as técnicas da engenharia no gerenciamento dos equipamentos de saúde com o objetivo de garantir a rastreabilidade, usabilidade, qualidade, eficácia, efetividade, segurança e desempenho destes equipamentos, no intuito de promover a segurança dos pacientes.”