Remuneração dos médicos por especialidade e o mercado médico no Brasil






O Relatório do Medscape de 2013 revela que em geral, a renda do médico norte-americano tem aumentado, e a reforma da saúde nos EUA tem feito um impacto definitivo sobre a prática médica, apesar de ainda haver frustração em algumas áreas. O relatório também revela o número de horas trabalhadas por cada especialidade, as mudanças no exercício da medicina e a satisfação do médico com a sua remuneração e prática.

Cerca de um terço das especialidades pesquisadas ganham em média mais de 300.000,00 dólares por ano. De acordo com esse estudo nos EUA, em 2013, as 3 especialidades mais bem pagas foram: ortopedia, cardiologia e radiologia (as mesmas de 2012). No outro lado do ranking, em último lugar, está a especialidade que cuida das doenças infecciosas e AIDS, (que em 2012 foi ocupado pela pediatria).

A maioria das especialidades relataram aumentos na renda que variam de modestos a significativos. A cirurgia ortopédica foi a que apresentou maior aumento, enquanto que endocrinologia e oncologia apresentaram ligeiro declínio. De acordo com Tommy Bohannon, vice-presidente da Merrit Hawkins: “À medida que a economia ficou um pouco mais forte, muitas pessoas que foram adiando procedimentos eletivos estão começando agora a fazê-los”. Além disso, conforme a população envelhece também exige mais cuidados ortopédicos decorrentes das quedas.

Ainda há uma grande diferença na remuneração entre homens e mulheres. Em geral, médicos do sexo masculino ganham 30% a mais do que as mulheres, porém essa diferença é um pouco menor em relação à atenção primária (cerca de 17%). Um fator que contribui para isso é a escolha das especialidades, já que há menos mulheres em especialidades mais bem remuneradas, como ortopedia, por exemplo, em que apenas 9% dos entrevistados eram mulheres, enquanto que em pediatria essa porcentagem sobe para 53%. Essa diferença também tende a cair um pouco, à medida que mais médicos começam a trabalhar para grandes sistemas de saúde.

Outro fato importante a considerar é o lugar onde você exerce. Nos EUA, os médicos residentes na região Centro-Norte (Iowa, Missouri, Kansas, Nebraska, Dakota do Norte e Dakota do Sul) ganham mais, do que os residentes na região Nordeste. Isso se deve a um menor custo para procedimentos naquela região e a um menor número de médicos.

Apesar da melhor remuneração em ortopedia, cardiologia e radiologia, as especialidades que mais concentram médicos em atividade nos EUA são: Clínica médica/Medicina interna (com mais de 100.000 profissionais), medicina da família e pediatria.





Fonte: 2012 Physician Specialty Data Book Center for Workforce Studies, Association of American Medical Colleges



Especialidades com maior número de médicos ativos, 2010

Fonte: 2012 Physician Specialty Data Book Center for Workforce Studies, Association of American Medical Colleges

Porém, também são esses especialistas, que estão mais insatisfeitos com a prática médica. De acordo com o Relatório, apenas 19% dos médicos pesquisados escolheriam a medicina interna novamente, e para os médicos da família esse número é de 28%.  Do outro lado do ranking, dermatologia lidera com 59% de satisfação geral.

No Brasil, não temos nenhuma pesquisa contendo o ranking de remuneração por especialidade. Mas, uma pesquisa feita pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e CREMESP em 2013, intitulada Demografia Médica, indica que já alcançamos o patamar de 400.000 médicos no país. Isso significa que há 2 médicos para cada 1.000 habitantes, e que em menos de dez anos alcançaremos o número preconizado pelo governo brasileiro de 2,75 – o mesmo que o inglês. O estudo também mostra a concentração de médicos nos grandes centros, e principalmente nas regiões Sul e Sudeste, onde estão as melhores oportunidades de emprego, especialização e qualidade de vida. Mostrando que ao contrário do que se pensava, o principal fator de fixação do médico não é o local da graduação, mas os locais onde encontra as melhores condições para o exercício da profissão e qualidade de vida.  De acordo ainda com a pesquisa, a região Norte é onde se encontra o menor número de médicos (concentrados principalmente nas capitais).

Um dado interessante do estudo, é que dos médicos pesquisados que se graduaram em local diferente de onde nasceram, cerca de 36% retornaram ao município de onde saíram. Mas esse retorno, não significa que foi para o interior, porque um terço dessa porcentagem corresponde às cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, 25% ficaram no local de graduação, mas mais da metade dessa porcentagem corresponde a 7 grandes centros (sendo 5 deles, capitais da região sudeste). Vitória, por exemplo, tem 11,61 médicos/1.000 habitantes, a maior concentração nacional, enquanto que o estado como um todo tem razão de 2,17. No outro lado da escala está o Macapá com 1,38 médicos por 1.000 habitantes, enquanto que seu estado possui razão de 0,95. 




Distribuição de médicos registrados (CFM) por 1.000 habitantes, segundo Grandes Regiões – Brasil, 2013 - Distribuição de médicos registrados (CFM) por 1.000 habitantes, segundo Grandes Regiões – Brasil, 2013



Ainda de acordo com essa pesquisa, das 53 especialidades reconhecidas pelo CFM, sete delas concentram mais da metade dos médicos especialistas no Brasil. A pediatria está em primeiro lugar no ranking, com 11,23% do total de especialistas. Seguida de ginecologia e obstetrícia, cirurgia geral, clínica médica e anestesiologia.




Fonte: CFM; Pesquisa Demografia Médica no Brasil, 2013.



Em relação à remuneração, em 2009, apenas 55,7% dos médicos apresentavam renda mensal superior a R$ 7.000,00 e, dos restantes, 25,2% recebiam mensalmente no máximo R$ 4.000,00. Hoje, a média de salário mensal, de acordo com Censo de 2010 do IBGE, é de R$ 6.940,12, com jornada de trabalho de 42 horas semanais. Sendo que, um dos grandes problemas é a remuneração inadequada pelo SUS e pelos convênios particulares - máximo 27% e 67%, respectivamente, do recomendado pelas associações de classe. Para se ter uma ideia:



Folha de São Paulo em - http://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2014/03/1432496-radiografia-do-saude-no-pais-mostra-regioes-africanas-e-europeias.shtml



Uma grave consequência dessa baixa remuneração pelos convênios, por exemplo, é a troca do consultório por plantões em hospitais e prontos-socorros. É o que está acontecendo com a pediatria, (como mostra uma reportagem recente da Folha de São Paulo): “Todas as especialidades são afetadas pelo repasse, mas a pediatria não tem ganho adicional dos procedimentos”, descreve Milton Macedo, Diretor de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Pediatria. Ao contrário de um ortopedista, por exemplo, que recebe também por procedimentos (como engessar um braço).

De acordo com um levantamento da Sociedade Paulista de Pediatria, os convênios pagam em média R$ 66,00 por consulta, mas cada criança atendida custa ao médico R$ 55,00. Assim, a cada plantão de 12h, recebe-se o mesmo do mês inteiro de consultório. O grande problema disso, é que essa migração para os hospitais sobrecarrega os pediatras que resistem nos consultórios. E ainda, a demora por uma consulta na clínica, leva à lotação dos prontos-socorros pediátricos.

Dessa forma, a alternativa tem sido a procura por especialidades que acrescentem novos ganhos, como a dermatologia, por exemplo, pela possibilidade de inclusão de diversos procedimentos, principalmente estéticos, como forma de remuneração do médico.

Por fim, engana-se quem ainda acha que o médico escolhe sua carreira apenas pela remuneração. Pesa também nessa escolha as grandes jornadas de trabalho, o tempo de estudo e dedicação à profissão, a atualização constante, mas principalmente a importância da relação com o paciente e a satisfação de ser capaz de resolver problemas e ajudar o paciente a melhorar.




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